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Discurso de S. E., o Primeiro Ministro, Dr. José Ulisses Correia e Silva, no II Fórum WASAG

Pela segunda vez consecutiva, Cabo Verde e a Cidade da Praia foram escolhidos para realizar o Fórum Internacional da WASAG.

Agradeço a confiança dos parceiros e tudo faremos para que seja um sucesso.

Manifesto o total engajamento de Cabo Verde em continuar a sedear, na cidade Praia, os próximos Fóruns da WASAG.

O Forum WASAG é importante na agenda mundial. Um dos maiores e mais prestigiados eventos científicos de nível mundial, dedicados exclusivamente à temática da escassez de água na agricultura e os seus efeitos para as sociedades modernas.

Constitui uma ferramenta importante de partilha de conhecimento e tecnologias que ajudam os países na adoção de medidas adequadas para a gestão sustentável da água na agricultura.

É uma oportunidade que proporciona aos técnicos, académicos, especialistas e pesquisadores interagirem com renomados cientistas de várias partes do mundo.

Nos próximos dias 22 a 24 de março terá lugar, em Nova York, a Conferência da Água da ONU, convocada pelo seu Secretário-Geral, Engenheiro António Guterres, para debater o futuro da Humanidade e a sua relação com a água.  Estamos convictos de que os resultados deste II Fórum da WASAG serão subsídios úteis para a conferência da Água das Nações Unidas.

 

Minhas senhoras

Meus senhores

A água está no centro do desenvolvimento sustentável e é um dos temas centrais da Agenda 2030 para o Desenvolvimento das Nações.

A agricultura é a maior consumidora de água. A problemática da sua escassez ganha particular relevância perante a gravidade dos impactos das mudanças climáticas e perante o crescimento da população mundial, que induz o aumento da demanda de alimentos e da produção alimentar.

Os números são sugestivos: dos atuais 8 bilhões de pessoas, a humanidade contará com cerca de 9,6 bilhões em 2050, o que representa um aumento da demanda de alimentos em 60%.

O desafio é colossal, perante a situação atual e as tendências futuras:

Dados das Nações Unidas mostram que 2,2 bilhões de pessoas no mundo não têm acesso à água potável.

Segundo as estimativas, em 2050, 40% da produção mundial de cereais estará em risco devido à escassez de água.

Nos próximos 50 anos, mais de 40% da população mundial viverá em países que enfrentam problemas de escassez da água.

Em diversas regiões do mundo, é possível constatar diferentes impactos, como o desaparecimento de rios e nascentes e a poluição das águas.

 

Desafio de aceleração das medidas de adaptação e de transformações estruturais para o aumento da resiliência e o alcance do desenvolvimento sustentável.

Desafio de conciliar os objetivos de aumento da produção e da resiliência alimentar com os da mitigação das mudanças climáticas e de adaptação aos seus efeitos.

O conhecimento técnico e científico, a cooperação e a disponibilidade de recursos financeiros são determinantes para a construção de respostas estruturadas para uma melhor gestão da água e da escassez hídrica, tendo em vista uma maior produção e resiliência do sector agroalimentar face aos efeitos das mudanças climáticas.

WASAG pode desempenhar um papel muito relevante neste sentido através da promoção do reforço da investigação, da inovação e da partilha de conhecimentos e tecnologias.

 

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Em 2019, o I Fórum foi realizado num contexto mundial muito diferente do atual.

Hoje, o mundo está numa situação bem pior. Estamos perante os efeitos conjugados de tripla crise mundial: a emergência climática, a pandemia da COVID 19 e a guerra na Ucrânia.

Os impactos a nível ambiental, económico, social e humanitário têm sido terríveis para o mundo e, particularmente, para os países menos desenvolvidos.

Neste contexto de crises, Cabo Verde tem-se posicionado com muita resiliência e capacidade de adaptação.

Perante as crises, fazemos a gestão das emergências e das contingências e, ao mesmo tempo, desenhamos e implementamos políticas, reformas e investimentos para aumentar a resiliência do país: na saúde e segurança sanitária; no ambiente, energia e água e; na diversificação da economia.

A forte exposição às mudanças climáticas criou na nação cabo-verdiana uma atitude secular de superação e de adaptação face à seca e à escassez hídrica. São séculos de resiliência para a sobrevivência.  Hoje, o nosso desafio é de resiliência para o desenvolvimento sustentável.

É na perspetiva da resiliência para o desenvolvimento sustentável que a nossa estratégia assenta em transformações estruturais nos seguintes eixos, e que partilho convosco:

aceleração da transição energética para o aumento significativo da capacidade de produção, armazenamento e distribuição eficiente de energia através de fontes renováveis (sol, vento e mar), com impacto na redução da importação de combustíveis fósseis;

estratégia da água que torne a agricultura menos dependente da ocorrência de chuvas, através da dessalinização da água do mar, reutilização segura de águas residuais e massificação da rega gota a gota, associados à utilização de energias renováveis;

aumento da produtividade e rendimento da agricultura e da segurança alimentar e nutricional, através de maior aplicação da I&D, da logística agrícola e da capacitação e qualificação dos agricultores;

desenvolvimento da economia azul com equilíbrio da gestão dos recursos marinhos e a conservação e proteção da biodiversidade.

 

São recursos naturais – sol, vento, terra e mar – que transformamos em energia, água potável, agricultura, eco-turismo e economia azul, com a integração de capital humano qualificado, tecnologia, investigação aplicada e bom sistema de governança institucional.

Temos que ter capacidade de mitigação e de adaptação, mas com o objetivo de transformar a realidade ambiental, económica e social com ambição de desenvolvimento e não apenas gerir contingências.  Este é o desígnio que devemos partilhar.

Os desafios das mudanças climáticas, da sustentabilidade ambiental e da redução das vulnerabilidades ambientais, económicas, sociais e humanitárias, são uma responsabilidade global.

Por isso, é imprescindível que o desígnio do desenvolvimento sustentável seja assumido como uma prioridade por todos. E que dois fatores críticos – tempo e financiamento – sejam geridos com sentido de urgência por todos.

Todos os países estão com prazos curtos para inverter a trajetória das mudanças climáticas e seus impactos devastadores. Por isso, a chamada para a ação do Secretário Geral das Nações Unidas.

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Termino, manifestando profundo agradecimento à FAO, ao Governo da Suíça e à WASAG por acreditarem, mais uma vez, na nossa capacidade de organização e no nosso comprometimento com esta importante plataforma sobre a escassez da água na agricultura.

 

Reitero os agradecimentos do Governo de Cabo Verde à comissão científica da WASAG, ao secretariado de apoio na FAO, em Roma, e à comissão nacional organizadora, pelo excelente trabalho desenvolvido na organização deste evento.

Um bom trabalho para todos nestes quatro dias do Fórum.

Desfrutem bem da vossa estada nesta Cidade e na Ilha de Santiago.

Sintam-se em vossa casa.

Muito obrigado.