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JMN ausculta a comunidade cabo-verdiana de Amadora

O Primeiro-Ministro, José Maria Neves, reuniu-se com varias centenas de Cabo-verdianos que se deslocaram ao concelho de Amadora, Portugal para juntos analisarem os problemas vividos pela Comunidade. As demolições e o drama vivido pelos Cabo-verdianos no bairro de Santa Filomena foram um dos assuntos que dominou o encontro.

José Maria Neves, que se fez acompanhar da Ministra das Comunidades, Fernanda Fernandes, e pela Embaixadora de Cabo Verde em Lisboa, Madalena Neves, reconheceu os graves problemas de habitação vividos pelos imigrantes cabo-verdianos e afirmou estar empenhado “num diálogo de proximidade” com as autarquias locais da Grande Lisboa.

O Chefe do Governo referiu que o seu Executivo fará tudo o que for possível para dialogar com as autoridades portuguesas. À audiência, composta por muitos moradores do Bairro de Santa Filomena, que tem vindo a ser desmantelado, disse que “Cabo Verde não pode impor as leis ao poder soberano de Portugal, como Portugal não pode mandar no de Cabo Verde”.

“Nós não podemos chegar aqui e dizer ao presidente Joaquim Raposo para parar com as demolições; não podemos impor nada, apenas podemos negociar com a Câmara Municipal”, explicou Jose Maria Neves.

A Embaixadora, Madalena Neves,  destacou um intenso percurso de contactos e conversações com entidades portuguesas, nomeadamente o ACIDI – Alto Comissariado para o Diálogo Intercultural, além da Câmara da Amadora, no sentido de se encontrarem soluções para as pessoas desalojadas. Esta responsável salientou que havia muita vontade das entidades portuguesas para encontrar as soluções, mas a tentativa de politizar a situação foi prejudicial.

Segundo a Câmara Municipal da Amadora, esta edilidade vem facultando realojamento às pessoas que estavam no bairro até ao recenseamento de 1993. As que entraram no bairro depois desse ano têm que sair, com a possibilidade dos desalojados arranjarem uma casa e a autarquia apoiar durante três meses a renda.

O Governo, afirmou José Maria Neves, está disposto a disponibilizar um fundo, em cooperação com Portugal e outras entidades no sentido de acudir os casos mais urgentes, analisados caso a caso, explicou, mas notou que Cabo Verde é um país pequeno, com pobreza e desemprego. “Todas as comunidades cabo-verdianas no mundo preocupam-nos e têm também problemas”. Em São Tomé, exemplificou, “encontrei cabo-verdianos numa situação que nunca imaginei ser possível nos dias de hoje”.

O Chefe do Governo lançou um repto aos cabo-verdianos em Portugal no sentido de “não cruzarem os braços”, e lutarem  com respeito pelos próprios direitos. Apelou, ainda à comunidade para que se “recenseie, vote e participe para que possa ter peso na sociedade em que vive, no âmbito da reciprocidade entre os dois países”, citando os exemplos de alguns eleitos norte-americanos das regiões de forte concentração de cabo-verdianos a quem devem a sua eleição.

Para além dos problemas de Santa Filomena, outras preocupações dos imigrantes, como o desemprego, abandono escolar dos jovens filhos e netos de imigrantes, a situação dos doentes evacuados e os atrasos no envio dos subsídios que recebem e o desejo de alguns de regressarem ao país foram outras das questões debatidas.

O desenvolvimento económico e social de Cabo Verde e a situação política foram temas, também discutidos.