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Qualidade do debate corresponde à expectativa do Fórum Nacional sobre violência

Com efeito, alguns desses aspectos foram antecipados pelo Primeiro-Ministro, José Maria Neves e pelo Bispo de Santiago Dom Arlindo Furtado, como é o caso da necessidade de reforço da educação para a cidadania e para a atenção ao aspecto histórico e cultural da violência, lembrando que Cabo Verde tem um passado histórico de violência, através da escravatura, por exemplo.

Na sequência, um das participações reforçou esta visão, destacando o facto de que "a sociedade cabo-verdiana é violenta e não é de hoje. Tem sido violenta ao longo da história, é violenta no meio rural e continua violenta no meio urbano", frisa.

O fenómeno novo – continua – é a violência nas casas, nas famílias, dos homens a dominarem as mulheres e a agredirem as crianças. "Somos mais violentos que morabeza, ao longo dos anos, ao longo da formação da sociedade cabo-verdiana. Temos uma matriz cultural violenta. O fenómeno novo é a violência sair do interior das casas; a violência vir para a rua, para o espaço público. O que é novo é a urbanização de Cabo Verde, não a violência".

Um outro fenómeno novo destacado na sequência do debate prende-se com o seguinte: "em vez de ser o pai dominador, paternalista, patriarca a exercer a violência exclusiva no seio da família, neste momento é o filho, é o adolescente que sai do espaço urbano com uma nova linguagem a cometer a violência".

O mesmo participante também desmistificou a ideia de que os aspectos económicos não são factores de riscos e da violência. Para alguns, estes aspectos são importantes mas não são os únicos. "Quando os pais não tem rendimento, quando os pais não tem prestígio social, uma família consegue manter a liderança ética na família a causa da violência não é a família a causa da violência é a causa que desestrutura a família. É muito mais profundo. O discurso do poder passa a ser o poder do discurso", reforça.

Um outro participante reforçou a ideia do combate ao narcotrafico como uma das causas da violência.

Fica a ideia de que combate à violência deve passar pela educação para cidadania e que os problemas que a sociedade cabo-verdiana enfrenta devem ser trabalhados na perspectiva dos jovens, de acordo com as opções sociais que devem ser positivas com vista a melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.

Outra participante apelou a necessidade de um estudo científico do fenómeno da violência com bases estatísticas, "trabalhar os dados que existem porque só assim é possível traçar as políticas sociais às diversas problemáticas sócias que existem no país, realçando o papel das universidades nesse âmbito. "As estatísticas para a ciência são muito importantes…", reforça outra senhora da plateia. De acordo com dados policiais, segundo essa senhora, Cabo Verde regista quatro homicídios por cada cem mil habitantes, enquanto Recife no Brasil regista 297 homicídios por cem mil habitantes.

Isso para sustentar a ideia de que os índices de violência no país estão muito longe de justificar o "pânico" como se regista em outras paragens do mundo.

As políticas sociais devem ser trabalhadas a nível das economias, a nível de emprego e formação mas também devem ser trabalhadas a nível das perspectivas e expectativas dos jovens, frisa uma outra interveniente.

No fim, a certeza de que essas e todas as contribuições saídas do Fórum deverão contribuir e muito para a elaboração do documento final que irá constituir-se no Plano Nacional de Luta contra a Violência e que pretende trazer soluções concretas e duradouras para a redução da violência na sociedade cabo-verdiana.